segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Do SESC/SP para a iniciativa privada - III

Ausência de infra-estrutura privada e início da formação do mercado

No final da década de 90, o mercado de música independente no Brasil estava em uma fase bastante embrionária (estou falando do mercado de música independente ao qual estava vinculado como consumidor e no qual, mais tarde e com menor intensidade, atuei como agente econômico).

Havia selos que lançavam artistas em fitas K-7 (depois veio o CD-R e o CD), pequenos shows, pequenos clubes, fanzines e o começo da Internet[1], que contribuiu para que as pessoas com interesses comuns se encontrassem.

Com o passar dos anos, os selos foram se estruturando juridicamente e empresarialmente; o público foi crescendo e se informando cada vez mais; os clubes e casas de show foram se desenvolvendo em tamanho e qualidade; a possibilidade de distribuição nacional de CDS tornou-se realidade para os selos independentes[2] e a troca de arquivos na Internet chegou de modo avassaladora[3] (e isso foi bom, só para deixar claro).

Nesse processo, os shows de bandas internacionais que ocorriam no SESC/SP, em especial no SESC Pompéia, eram as mais estruturadas manifestações empresariais e artísticas desse cenário.

O SESC Pompéia era o lugar onde as pessoas se encontravam e onde algumas das românticas feiras dos selos independentes aconteciam.

O principal promotor das bandas estrangeiras que vinham ao Brasil, no início da década, foi Marcos Boffa[4]. Conversei com ele recentemente sobre essa época.

As primeiras perguntas que fiz a ele foram: “Por que o SESC/SP? Quais eram os atrativos? Era a única possibilidade de trazer as bandas ao Brasil?”. Antes mesmo de comentar as respostas de Boffa, vou explicar os porquês das perguntas.

Formulei essas perguntas para entender se eu e Boffa concordaríamos em alguns pontos. A minha opinião é a seguinte: em um ambiente em que a iniciativa privada fornecedora de produtos ou serviços para esse público ainda se estruturava, um interlocutor como o SESC/SP era algo raro (Continua).

[1] A Internet comercial no Brasil teve início em 1995.

[2] A Tratore foi inaugurada em 2002 (“Distribuidoras emplacam indies”, 26.09.06, Folha de São Paulo, Ilustrada, Adriana Ferreira Silva). A Distribuidora Independente, vinculada à Trama, funcionou entre 2002 e 2007. A Associação Brasileira da Música Independente (ABMI) foi criada em 2002.

[3] A troca de arquivos pela Internet foi especialmente cruel com os selos brasileiros que estavam começando a se estruturar. Se os selos norte-americanos e ingleses sofreram ao pensar novos modelos de negócio, para os brasileiros, quase todos recém criados e sem os anos de experiência desfrutados desde a década de 80 e 90 pelos selos norte-americanos e ingleses, a situação foi mais drástica. A distribuição nacional tornou-se uma realidade para os selos brasileiros e, quase que concomitantemente, a troca de arquivos por meio da Internet desenvolvia-se em progressão geométrica. Houve pouco tempo para o amadurecimento do mercado fonográfico independente, pois o modelo de negócio estava em transição. Mas isso é outra história.

[4] Outros promotores também atuaram no mesmo período. Paola Wescher (Squat) realizou festivais com várias atrações internacionais na primeira metade da década: Curitiba Pop Festival (2003-2004) e Curitiba Rock Festival (2005). Para a cidade de São Paulo, trouxe os seguintes artistas (em conjunto com a empresa Inker): Nada Surf (Urbano, 2004), Wax Poetic (Pompéia, 2005), Eight Legs (Studio SP, 2007), Bloody Social (Vegas, 2007), Josh Rouse (Vila Mariana, 2008) e colaborou com o Campari Rock (2005-2006). Carlos Farinha (Bizarre Music) trouxe os seguintes artistas para São Paulo: Stereo Total (Pompéia, 2003), Cobra Killer (Pompéia, 2004), Le Hammond Inferno (Pompéia, 2004), Tarwater (Itaú Cultural, Resfest, 2005), Miho Hatori (Cinemateca Brasileira, Resfest, 2007), Akron/Family (Cinemateca Brasileira, Resfest, 2007) e My Brightest Diamond (Cinemateca Brasileira, Resfest, 2007). Eduardo Ramos (Slag), com quem colaborei, promoveu shows dos seguintes artistas: Nice Man (Pompéia, 2003), Teenage Fanclub (Pompéia, 2004), Damo Suzuki (Pompéia, 2005), Fennesz (Pompéia, 2005), Wolf Eyes (Pompéia, 2005), Television (Pompéia, 2005), 1990s (Coppola, 2006), Gruff Rhys (Studio SP, 2007), Four Tet (Studio SP, 2007), King Creosote (Studio SP, 2007) e Max Tundra (Studio SP, 2008). Infelizmente não consegui conversar com Carlos Farinha para confirmar essas informações. Creio que existem outras pessoas que trouxeram artistas estrangeiros para se apresentarem no Brasil, mas, para limitar a etapa de compilação dos dados, era importante fazer um corte. Optei por deixar de fora os promotores de shows de hardcore e metal, pois eu nunca estive muito perto dessa realidade, o que demandaria mais pesquisa para conhecê-la, e ela não tem muitos pontos de contato com os artistas ou palcos mencionados neste texto.

2 comentários:

Anônimo disse...

oi Bruno, vi q vc escreveu q não conseguiu falar comigo então só estou deixando o recado aqui para te falar q se precisar de qq informação é só falar. De cara só posso te dizer q estão falatando várias coisas nossas na sua lista.

grande abraço!

Bruno Ramos disse...

Legal, Farinha. Valeu! Vamos nos falar no musicaemercadobr@gmail.com? Quero fazer as alterações e complementos. Um abraço e valeu.