quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

O papel do Estado (1)

O artigo 215 da Constituição Federal estabelece:

O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.

Além de imaginar políticas públicas vinculadas à música para satisfazer as obrigações estipuladas por esse artigo, o Estado também tem que instituir políticas públicas para incentivar a economia da música, como é feito em relação aos vários outros setores da economia.

Tentando realizar tais tarefas, são oferecidas várias modalidades de apoio estatal:

- leis municipais de incentivo;
- leis estaduais de incentivo;
- lei federal de incentivo;
- editais do Ministério da Cultura;
- editais de empresas estatais;
- Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas);
- APEX (Agência de Promoção de Exportação e Investimentos no Brasil).

Cada uma das opções acima tem seus critérios de seleção e julgamento para conceder apoios. Cada uma das opções acima tem um ou mais objetivos estipulados em seus programas.

Para entender e analisar esse quadro, seria importante imaginar alguns critérios para a classificação do objeto em questão (apoio estatal à música).

Uma primeira classificação diz respeito ao foco do apoio: o mercado interno ou o externo.

Outras classificações possíveis seriam:

- para pessoa física (artista, banda) ou para pessoa jurídica;

- para apoiar a produção de música (gravação, masterização, mixagem etc.) ou para desenvolver a infra-estrutura de negócios na qual a música irá se encaixar (festivais, capacitação de pessoas etc.);

- para desenvolver certa estética minoritária considerada culturalmente relevante (pluralidade de manifestações artísticas) ou para apoiar quem já tem um público potencial mais claro.

Como é compreensível em uma federação, seus entes têm autonomia para destinar recursos para a área cultural. Sendo assim, as leis municipais, estaduais e federais não necessariamente são concatenadas entre si.

Em função desse cenário, duas perguntas me vêm à cabeça:

Pergunta 1: Será que uma lei federal poderia instituir um modo de concatenar e racionalizar todas as leis de incentivo do país, por meio de normas gerais sobre incentivo à música?

Pergunta 2: Trazem mais benéficos ou prejuízos para o desenvolvimento da música e do mercado brasileiro o fato de que existem diferentes mecanismos de apoio que não dialogam entre si?

A minha percepção é a seguinte: os diferentes programas, leis e editais existentes no Brasil contribuem para uma relação esquizofrênica entre Estado, artistas e empresas.

Continuo amanhã.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

APEX

Entrei em contato com Bruno Amado, gestor do Projeto Setorial Integrado de Exportação da Música do Brasil.

Pedi a ele as seguintes informações e documentos públicos:

- cópia do atual convênio entre APEX e BMA;

- as prestações de contas referentes ao atual convênio e os relatórios internos da APEX que já aprovaram tais prestações de contas;

- a confirmação da formação atual do Comitê Gestor vinculado ao projeto, a periodicidade das reuniões e o local onde ocorrem.

David Mcloughlin (BMA) indicou um link (publicado aqui em 19 de fevereiro) que permitiria o acesso a mais detalhes sobre o projeto. No entanto, as informações disponíveis não são plenamente satisfatórias, a despeito de serem importantes e permitirem um conhecimento mais aprofundado do projeto.

Um ponto negativo, por exemplo, relaciona-se ao ícone denominado "Número de Empresas Beneficiadas: 50". Um dado importante. Mas não há informações sobre quais são essas empresas, quais os ramos da atividade econômica da música aos quais se vinculam, quais benefícios receberam, qual a quantidade de exportação gerada...

Um ponto positivo é a publicação da lista de membros do Comitê Gestor: Costa Netto (BMA), Jan Fjeld (UOL), Marcos Kilzer (Coqueiro Verde), Maurício Bussab (Tratore), Michel Nicolau (gerente do primeiro convênio entre APEX e BMA, que se encerrou em 2006), Murilo Pontes (Eldorado) e Roberto Mello (Abramus).

Não é possível que haja debate público sem informações que respaldem argumentos positivos ou negativos sobre certa política pública.

Vou aguardar o envio das informações e documentos públicos que eu pedi.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Abrafin

Mesmo considerando que a Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes) é uma instituição nova, sem fins lucrativos e com um orçamento pequeno, ela já ocupa um espaço de destaque no debate sobre o mercado de música no Brasil.

A principal fonte de informação sobre uma instituição é, em regra, seu site. No entanto, o site da Abrafin contém poucas informações. O link que dá acesso ao estatuto não está funcionando, por exemplo.

Do mesmo modo que venho entrando em contato com outras instituições, entrei em contato e enviei as perguntas abaixo para o presidente da Abrafin, Fabrício Nobre. As questões serão sobre temas que poderiam estar contemplados no site da Abrafin.

1- O texto de apresentação da Abrafin indica que havia a expectativa de contar com quase 30 festivais associados ao final de 2007. Essa meta se realizou?

2 – Há uma lista de festivais brasileiros no site da associação. Todos os festivais mencionados são associados à Abrafin?

3 – Quais os planos da Abrafin para 2008? Quais as principais metas e como se pretende realizá-las?

4 – Qual a opinião da Abrafin sobre o que seria mais importante para o mercado brasileiro no momento: financiamento público de grandes feiras de negócios ou financiamento público de pequenas feiras descentralizadas? Sim, o pressuposto é que as duas espécies de eventos são importantes. Mas qual deveria ser priorizado no momento?

Assim que as respostas forem enviadas, serão publicadas neste espaço.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

James Lima, Petrobras e o papel do Estado

No último dia 21, o Music News publicou um editorial cujo título era “As feiras de música perdem seu maior patrocinador – A Petrobras”. O texto foi assinado por James Lima, editor do Music News.

O título era bastante incisivo e parecia estar alicerçado em fatos que seriam narrados no inteiro teor do editorial. O inteiro teor do editorial afirma que a Petrobras redimensionou suas ações de patrocínio e, como conseqüência de tal medida, a Feira de Música Independente (FMI), o Porto Musical e a Feira Música do Brasil ficariam sem os recursos da Petrobras. O editorial indica que, em contrapartida, a Petrobras ainda vai patrocinar a Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes), ressalta que não tem nada contra a Abrafin e que a Petrobras estaria estimulando a Abrafin a fazer pequenas feiras e seminários. O editorial, ao final, critica essa estratégia da Petrobras por meio de uma pergunta que aponta o paradoxo da nova estratégia, tendo em vista que os eventos que deixarão de ser patrocinados pela estatal têm os mesmos fins que a Petrobras quer alcançar ao apoiar eventos da Abrafin.

No dia seguinte, 22 de fevereiro, o Music News publicou esclarecimentos enviados por Melina Hickson em nome do Porto Musical e da Abrafin (os inteiros teores das notas encontram-se no site do Music News).

Melina Hickson, ao final de sua manifestação, posiciona-se no sentido de que as pequenas palestras e debates que o Edital Petrobras de Festivais de Música pretendeu estimular não devem alterar ou enfraquecer as grandes feiras e convenções de música.

Em nova nota, James Lima reforça a opinião de que a Petrobras deixar de patrocinar os grandes eventos seria uma grande perda para o mercado independente. Considera que a Petrobras deveria continuar a apoiar o segmento de feiras, shows e encontros do mercado musical independente como um todo e, ao concluir, indica que o que está em pauta são as justificativas da estatal ao cortar “incentivos para algumas atividades e incluir ou continuar incentivando outras com as mesmas intenções”.

“Estamos ou não estamos todos junto?!” é a pergunta com a qual James Lima encerra seu texto.

-x-

Sou assinante do Music News há algum tempo e tenho a impressão de que foram raras as notas em que o editor se posicionou sobre assuntos ligados ao mercado brasileiro de música. Sendo assim, apenas o ato de se posicionar já é importante e contribui para que o debate possa ter início.

Não concordo com alguns pontos expressados por James Lima e vou indicar quais são eles e os porquês.

Em primeiro lugar, abordar o fato de que os grandes eventos têm os mesmos fins que os pequenos como um indicativo de que haveria uma irracionalidade na nova estratégia da Petrobras não é totalmente esclarecedor. Olhar para os mesmos fins genéricos que eventos pequenos e grandes tentam realizar não esclarece as diferentes conseqüências que cada tipo de evento pode gerar. Explico.

Um grande evento pressupõe o seguinte:

- será acessível às pessoas e empresas que já têm certo nível de capitalização para assumir os custos de deslocamento até o grande evento;
- a pauta será interessante para empresas e pessoas que já têm maior nível de organização para os negócios;
- a oportunidade para a troca de experiências e conhecimentos ficará centralizada em apenas um espaço.

Vários eventos pequenos pressupõem o seguinte:

- serão acessíveis às pessoas e empresas com menor nível de capitalização e que poderão, então, assumir os menores custos de deslocamento para um evento não tão distante do lugar onde se encontram;
- as pautas serão interessantes para empresas e pessoas que têm menor nível de organização para os negócios;
- a oportunidade para troca de experiências e conhecimentos ficará descentralizada.

James, pelo que compreendi, considera que a Petrobras deveria continuar a apoiar “todo o segmento de feiras, shows e encontros do mercado musical independente como um todo”. Sim, isso seria possível se os recursos financeiros não fossem escassos. A Petrobras deve ter seus limites para investir nesse segmento e, diante disso, toma decisões sobre onde investir. Ignorar esse ponto de vista da Petrobras não contribui para o debate.

Mas e o que eu acho mais produtivo: investir em vários pequenos eventos espalhados pelo Brasil ou investir em poucos grandes eventos?

Não sei. Não sei se tenho os dados necessários para ter uma opinião.

Antes de ter uma opinião formada, creio que seria importante saber:

- qual o perfil de quem participa de um grande evento e de um evento pequeno? Qual o seu nível de organização, conhecimento, faturamento, em que posição da cadeira econômica se encontra?

- o que fazem com as informações e experiências obtidas nos eventos grandes ou pequenos? Como os eventos influenciam objetivamente sua atividade econômica?

- quais as diferenças entre as três grandes feiras de música que ocorrem no Brasil?

A finalidade desse texto é tentar problematizar o debate que James Lima iniciou.

Tenho muito interesse sobre o tema do papel do Estado em relação à música e ao mercado da música. Em breve, pretendo publicar mais textos sobre o tema.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

CAPIF

Não são raras as vezes em que conhecemos mais sobre uma realidade distante do que sobre a realidade de nossos vizinhos.

Tentando alterar um pouco esse panorama, busquei dados sobre o mercado fonográfico da Argentina. Descobri a Cámara Argentina de Productores de Fonogramas y Videogramas, a CAPIF. Trata-se de instituição similar à ABPD.

Em 2007, segundo o relatório anual da CAPIF, o mercado físico de música na Argentina cresceu 5% em relação às unidades e 6,3% em relação aos valores arrecadados. As vendas digitais (Internet e telefonia móvel) cresceram 294% (em unidades). Em valores, o mercado como um todo cresceu 9,6%. Trata-se de um cenário que bastante me surpreendeu.

Em função disso, entrei em contato com Cecilia Sívori, assessora de imprensa da instituição, e enviei algumas questões para o diretor executivo, Javier Delupí. Assim que as respostas às perguntas abaixo forem enviadas, serão publicadas nesse espaço.

1 – Qual o montante total gerado por esse mercado?

2 – Se compararmos esses números com os números do mercado físico brasileiro em 2006 e com alguns números já divulgados do mercado digital brasileiro em 2007 (dados que estão disponíveis até o momento), prepondera a percepção de que o mercado argentino é mais sadio que o brasileiro. Você concorda com essa percepção? Gostaria de saber sua opinião sobre as razões desse substancial crescimento do mercado argentino no momento em que a indústria fonográfica está em crise em diversos países.

3 – Reparei que a CAPIF se preocupa com as questões éticas entre seus associados. Há muito desrespeito às normas éticas por parte dos associados da CAPIF? A CAPIF aplica muitas sanções aos seus integrantes?

4 – Ao se analisar o site da CAPIF, percebe-se que a questão da pirataria é apenas uma das questões em relação às quais a CAPIF se dedica. Logicamente que é uma questão preocupante e importante. Você poderia ilustrar, por meio de porcentagens, quanto dos recursos financeiros e humanos da CAPIF é direcionado ao combate da pirataria? Quais os demais projetos prioritários para a CAPIF?

5 – Achei interessante três atividades desenvolvidas pela CAPIF: “CAPIF nas escolas”, “Guia de práticas recomendadas em matéria de propriedade intelectual e segurança na rede” e “Jovens, música & Internet”. Li as informações no site da CAPIF, mas gostaria de lhe perguntar:

a) Como essas atividades ocorrem na prática?

b) Qual a quantidade de pessoas que cada uma dessas atividades já alcançou?

c) Como você avalia a eficácia de tais programas?

d) Há um dado objetivo que demonstre a eficácia de tais programas em relação às concepções ou condutas dos jovens, empresas e organizações?

6 – A CAPIF desempenha papel similar ao desempenhado pela ABPD no Brasil. Mas uma diferença é evidente entre as duas instituições: enquanto a ABPD congrega as multinacionais e mais 4 outras empresas, a CAPIF congrega as multinacionais e mais 29 outras empresas. Levando em considerações esses dados, qual ambiente você considera mais produtivo para se pensar os desafios da indústria fonográfica: um ambiente mais plural ou menos plural?

Music Export Denmark

Encerrando a série de entrevistas com alguns escritórios de exportação que se relacionam com o South by Southwest, entrei em contato com o Music Export Denmark (MXD).

Quem respondeu o e-mail foi Malene (ela esqueceu de indicar o sobrenome... então, indico o e-mail usado por ela: info@mxd.dk). No site do SXSW, em 10 de fevereiro, eram 7 as bandas dinamarquesas listadas como atrações do festival.

1 – Das 7 bandas dinamarquesas que participarão do SXSW 2008, quantas delas estão recebendo algum apoio do MXD para ir para Austin?

R.: Quatro das sete bandas serão apoiadas pelo ROSA, o Danish Rock Council.

2 – Que tipo de apoio as bandas estão recebendo?

R.: As bandas recebem apoio para o transporte.

Complemento: Qual o valor desse apoio? As bandas recebem as passagens aéreas internacionais?

R.: O valor varia de banda para banda, projeto por projeto. As bandas não recebem apoio integral para as passagens aéreas internacionais, quer do ROSA, quer do MXD.

3 – Eu lembro que, no Canadian Music Week 2007 (CMW), havia uma delegação de bandas dinamarquesas que, após o evento em Toronto, seguiriam para o SXSW. Quando vocês começaram a apoiar bandas no SXSW?

R.: O ROSA tem apoiado bandas dinamarquesas no SXSW desde 1994. O MXD e o ROSA apóiam bandas desde 2005.

4 – Como vocês controlam e avaliam os benefícios e resultados positivos decorrentes do apoio às bandas dinamarquesas no SXSW e de modo geral (em relação a todos os outros projetos e políticas)?

R.: Nós recebemos os relatórios das bandas e continuamos acompanhando as bandas, gravadoras, empresários, agentes, etc..

5 – O MXD recebe fundos do Estado? O escritório tem outras fontes de recursos além do Estado?

R.: O MXD foi fundado em janeiro de 2004 como uma iniciativa conjunta da emissora de rádio nacional, do Roskilde Festival/Venue Foundation e do ROSA para desenvolver uma exposição mais efetiva da música dinamarquesa no exterior. A idéia foi unir as experiências, contatos, etc., e um aporte financeiro substancial de cada uma das três partes. No verão de 2004, o escritório dinamarquês da IFPI e o DUP (associação das gravadoras independentes) se juntaram à instituição e, em reconhecimento ao amplo apoio que a iniciativa reuniu, o Ministério da Cultura aumentou os fundos da instituição com 3,5 milhões (moeda local) adicionais para os próximos três anos.

6 – O MXD contrata assessoria de imprensa nos EUA para ajudar as bandas dinamarquesas antes e depois do SXSW?

R.: Contratamos assessoria de imprensa para divulgar alguns showcases que fizemos no CMW e no SXSW do ano passado.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Bureau Export

O Bureau Export (Burex - escritório de exportação de música francesa) é um dos escritórios de exportação mais conhecidos e organizados. A instituição conta com representantes em diversos países (Alemanha, Brasil, Espanha, Estados Unidos, Japão, México, Reino Unido e Rússia). A sede brasileira localiza-se na cidade de São Paulo.

Robert Singerman é o chefe do Bureau Export de Nova Iorque. Conversei com ele sobre os planos do escritório para o SXSW 2008. As resposta enviadas por Robert foram publicadas abaixo.

1 – Das 11 bandas francesas que participarão do SXSW 2008, quantas delas estão recebendo algum apoio do Bureau Export para ir para Austin?

R.: Quatro bandas que participarão do SXSW são apoiadas financeiramente pelo escritório, escolhidas por diretores internacionais de vários selos e instituições financiadoras. Todas as bandas são apoiadas no que diz respeito à promoção e logística pelo escritório dos Estados Unidos (e também em Austin). Alguns dos outros grupos que não se inscreveram para nossos apoios (acho que nenhum foi rejeitado, posso conferir) devem ter outros modos de obter apoio financeiro na França, considerando que há outras instituições que oferecem diferentes níveis e tipos de apoio, que podem ser pesquisados em nosso site, no ícone Tools.

2 – Que tipo de apoio as bandas estão recebendo?

R.: Cerca de 4 mil Euros. Se necessário, posso ser mais preciso. Trata-se de um co-financiamento a título perdido juntamente com os selos, editoras ou empresários/agentes dos artistas.

3 – Quando vocês começaram a apoiar bandas francesas no SXSW?

R.: Provavelmente desde o início do Burex há financiamento para turnês e promoção, no mínimo 10 anos, creio. Com certeza estamos apoiando bandas no SXSW desde quando comecei a trabalhar no escritório.

4 – Como vocês controlam e avaliam os benefícios e resultados positivos decorrentes do apoio às bandas francesas no SXSW e de modo geral (em relação a todos os outros projetos e políticas)?

R.: Há relatórios/formulários prévios, com critérios específicos. Uma comissão julga e aprova os apoios e, depois da turnê, é feito um balanço (com recibos, contratos fechados, resultados, etc.).

5 – O Burex recebe fundos do Estado, não é? O escritório tem outras fontes de recursos além do Estado?

R.: Sim, o Burex é financiado pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Ministério da Cultura, além dos selos, SACEM (instituição similar ao ECAD), Cultures France (órgão vinculado ao Ministério das Relações Exteriores, Cultura e Comunicações, responsável por realizar intercâmbios culturais internacionais) e outras organizações. Também recebemos recursos de todos os membros, agentes, empresários, editoras, selos pequenos e até de produtores franceses.

6 – O Burex contrata assessoria de imprensa nos EUA para ajudar as bandas francesas antes e depois do SXSW?

R.: Em alguns anos contratamos, em outros não, depende de nosso orçamento, que está diminuindo nos últimos anos, em função da crise, momento em que o oposto disso deveria ocorrer.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

BMA responde

David Mcloughlin é o gerente do Projeto Setorial Integrado de Exportação da Música do Brasil, mencionado neste espaço em 13 de fevereiro de 2008.

Como integrante da associação Brasil, Música e Artes (BMA), ele coordena o projeto e dialoga com a APEX, instituição estatal que financia o programa brasileiro de exportação de música.

Quando resolvi começar esse blog, uma das pessoas com a qual eu queria manter um diálogo constante era David (foi uma das primeiras pessoas com a qual falei sobre o blog). Abaixo estão as respostas de David sobre algumas perguntas que enviei à BMA.

Agradeço ao David pela rápida resposta ao meu e-mail e agradeço a todas as pessoas que também estão contribuindo com o blog.

1 - Quem pode fazer parte da BMA? Apenas pessoas jurídicas?

R.: Ordinariamente pessoas jurídicas. Pensamos em ter pessoas físicas [futuramente], mas então definiremos regras.

2 - Quais os benefícios de se fazer parte da BMA?

R.: Você pode fazer parte de nossas atividades com todos os benefícios. Exemplo:

- faixas nos CDs promocionais semestrais. Estes CDs são distribuídos para clientes internacionais;

- promoção via
www.BMATOOLS.com. Você pode usar o BMATOOLS para promover um lançamento de seu disco no mercado internacional. O BMATOOLS é acessado apenas por empresários, rádios e jornalistas estrangeiros;

- participação em feiras. Você pode participar com a BMA das feiras internacionais, como MIDEM, POPKOMM, WOMEX, SXSW e LONDON CALLING. Em todas essas feiras a BMA possui estande ao qual você pode usufruir sem custos, além de seus custos pessoais;

- assessoria para exportação. Você pode consultar a equipe da BMA para que esta te assessore em negócios de exportação;

- participar dos projetos “Imagem e Comprador”. A BMA traz para o Brasil 10 profissionais de mídia e de empresas de música. Você poderá encontrá-los e, possivelmente, exibir seus produtos a eles;

- rede internacional de contatos. A BMA te disponibiliza uma rede internacional de contatos, contando com profissionais que nos ajudam nos EUA, Reino Unido, França e Alemanha.

3 - Quais os custos decorrentes da filiação junto à BMA?

R.: Por enquanto, a filiação é gratuita. Contudo, a BMA estuda instituir uma mensalidade que, de qualquer maneira, não será pesada. Algo em torno de R$ 50,00.

4 - Por que houve a opção de não publicar o estatuto da BMA em seu site?

R.: Não é opção. Devemos publicar, sim. Você tem razão.

5 - A APEX mantém um convênio com BMA cujo objetivo é a exportação de música brasileira. No entanto, não há muitas informações no site da BMA sobre como os interessados poderiam participar dos programas oferecidos às empresas ou artistas que busquem mecanismos que possam auxiliá-los a exportarem. Não contribuiria para o próprio amadurecimento das exportações de música brasileira que os programas oferecidos pela BMA, e a forma de se participar deles, fossem explicados no site da instituição com mais detalhes? Em outras palavras, diante do que foi dito acima, não valeria a colocação "quanto mais informações, melhor"?

R.: Devemos ter a partir de março uma pessoa contratada para cuidar apenas do site e dos nossos canais de comunicação com os empresários brasileiros. Também há um site da APEX no qual o projeto está em detalhes – www.apexbrasil.com.br/projetos. Entre como visitante, escolha como setor “música”. Haverá dois projetos lá. Escolha aquele em execução.

-x-

Em 2007, a BMA trouxe Tracy Mann, do South by Southwest (SXSW), ao Brasil. Ela foi uma das convidadas do projeto “Comprador e Imagem”. Durante os eventos organizados por aqui, Tracy Mann teve a oportunidade de assistir shows Lucy and the Popsonics, Pata de Elefante, Vamoz, MQN, Telerama e O Quarto das Cinzas. Essas 6 bandas acabaram sendo selecionadas, juntamente com outros 8 artistas brasileiros, para o SXSW 2008. A BMA, sendo assim, contribuiu para que o Brasil tivesse um número recorde de artistas no SXSW.

Levando isso em consideração, e tendo em vista que o SXSW vem sendo um tema prioritário nos últimos dias, fiz algumas perguntas complementares ao David.

1 – Haverá alguma espécie de apoio da BMA aos artistas brasileiros que irão ao SXSW 2008? Que tipo de apoio e para quem?

2 – Desde quando a BMA começou a se relacionar com o SXSW? Em quantas edições do festival a BMA esteve presente? Como foram essas experiências?

As respostas serão publicadas assim que forem enviadas.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

SXSW 2008 (8) - Alexia Bomtempo responde

Alexia Bomtempo


1 – Quantos shows você já fez fora do Brasil? Onde foram?

R.: Apenas algumas participações especiais, como no Sagres Surf Fest em Portugal no show de Pierre Aderne e no show do Couple Coffee, também em Portugal.

2 – Por que ir para o South by Southwest é importante? Quando o planejamento para ir para o South by Southwest teve início?

R.: Ano passado tive a oportunidade de conferir o festival de perto e fiquei realmente impressionada. Parece que a cidade toda pára e vira um grande palco! Tem shows rolando de manhã, de tarde e de noite, artistas do mundo todo se cruzando num clima de "paz e amor", inúmeras atividades e conferências voltadas para a indústria da música... Além desse banho de cultura musical, dá pra fazer mil contatos, abrir portas e ficar por dentro das novidades. Enfim, é muito bacana poder participar dessa grande festa. Esse ano resolvi me inscrever sem muito planejamento e fui convidada.

3 – Quais os principais obstáculos enfrentados para concretizar a idéia de ir para o South by Southwest?

R.: Ter que adaptar meu show no SXSW dentro de um formato menor, uma vez que a banda que me acompanha aqui é composta por 6 músicos.

4 – Quem está pagando os custos para a banda ir para o South by Southwest? Houve algum apoio estatal?

R.: Até agora não houve apoio, entretanto ainda estamos aguardando algumas respostas.

5 – Além do South by Southwest, a banda vai aproveitar para fazer mais shows no exterior? Onde e quantos?

R.: Após o SXSW irei pra NYC e tenho uma data ainda não confirmada.

6 – A empreitada será deficitária ou superavitária?

R.: Quem vai pro SXSW já sabe que a proposta não é financeira, desde Amy Winehouse (que participou no ano passado) até os artistas brasileiros. Ser convidado para o festival já é um prêmio!

7 – Qual é a sua expectativa com a participação no SXSW?

R.: Fazer um show bacana para um público antenado, ter a oportunidade de divulgar meu trabalho nos EUA e absorver toda a informação musical que circula pela cidade. Também é o meu primeiro show oficial nos EUA (onde nasci), o que faz com que a ocasião seja ainda mais especial.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Perguntas para a ABPD

Entrei em contato com Edna Calheiros, responsável pela comunicação da ABPD (Associação Brasileira dos Produtores de Discos), na semana passada.

Eu informei a ela o meu interesse em saber mais sobre os planos, as metas e como a ABPD pretende alcançá-las agora em 2008.

Eu entendo que o detalhamento dessas informações é algo apenas informado aos associados, por meio dos mecanismos de comunicação internos da ABPD. No entanto, considero que seria importante para o público em geral o acesso a tais informações, mesmo que com um menor nível de detalhamento.

Pedi, então, que a instituição, por meio de sua diretoria, escrevesse um pequeno texto que indicasse a posição da ABPD sobre os pontos mencionados acima. O texto seria publicado no blog.

Edna, em sua resposta, explicou que há um procedimento interno para esse tipo de solicitação e que, quando a diretoria se manifestasse, ela entraria em contato (é normal que a ABPD tenha um processo de decisão complexo e que demorasse um tempo para que se manifestasse sobre solicitações como a que foi feita). Também fui informado de que seria interessante que eu usasse o formato de perguntas direcionadas à diretoria da ABPD.

As perguntas enviadas para a ABPD estão abaixo. Assim que as respostas forem enviadas, serão publicadas nesse espaço.


1 - Diante do quadro desafiador em que se encontra o mercado fonográfico brasileiro (refiro-me aos dados disponíveis até agora, de 2006), quais são os planos da ABPD para contribuir com a melhora do cenário? Gostaria de ter mais detalhes sobre as metas da ABDP para 2008 e como a instituição pretende alcançá-las.

2 - A ABPD exerce com propriedade o combate à pirataria física. Esse tema é muito vinculado à própria instituição. No entanto, um dos objetivos da ABDP é criar condições para auxiliar a indústria a desenvolver novos mercados e novas tecnologias de comercialização de conteúdo. Tendo em vista esse objetivo, o que foi feito pela ABPD em 2007 e o que será feito em 2008?

3 - Ganharam destaque na imprensa algumas notícias recentes sobre a responsabilização dos provedores de acesso à Internet em relação às condutas de seus usuários ao compartilharem arquivos digitais (recente lei francesa, projeto de lei em debate no Reino Unido e processo judicial na China em face do principal buscar local – Baidu, vinculado à maior empresa da Internet chinesa). Qual a posição da ABPD sobre esse tema? Algumas dessas experiências (processos judiciais em face de provedores e empresas da Internet) seriam cabíveis no Brasil? Gostaria de respostas do ponto de vista político e jurídico brasileiro.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

SXSW 2008 (7) - Debate responde

Debate – Sérgio Ugeda


1 – Quantos shows a banda já fez fora do Brasil? Onde foram?

R.: Foram, ao total, 35 shows nos EUA. Costa a costa, desde Seattle, WA até St. Petersburg, FL.

2 – Por que ir para o South by Southwest é importante? Quando o planejamento para ir para o South by Southwest teve início? O Debate participou do SXSW 2007. Como foi essa experiência?

R.: Porque é um contato direto com o mercado mais organizado do mundo, na minha opinião. E o fato de estar dentro de uma esfera onde se é possível tocar em 35 cidades diferentes - e muito mais, é claro - dentro do mesmo país. O planejamento para o SXSW teve início em Outubro de 2006, quando a Amplitude (selo do Debate e do qual Sérgio Ugeda é sócio) teve quatro artistas convidados para o showcase. Infelizmente apenas o Debate pode ir, o que não nos permitiu extrair o que o evento oferece de melhor, que é justamente contextualizar o artista com um vínculo comercial para, afinal, negociar. Mas causamos uma boa impressão para o púbico presente e tivemos o prazer de sermos convidados novamente para a edição deste ano.

3 – Quais os principais obstáculos enfrentados para concretizar a idéia de ir para o South by Southwest?

R.: Bem, para começar é o dinheiro. É necessário assumir os custos da viagem - passaportes, vistos, passagens, transporte interno, equipamentos dentro do território, alimentação, hospedagem, etc. Depois é uma questão de comprometimento e visão a médio e longo prazo por parte da banda ou artista. É necessário se preparar até mesmo mentalmente para, enfim, viajar nas condições que o baixo orçamento impõe.

4 – Quem está pagando os custos para a banda ir para o South by Southwest? Houve algum apoio estatal?

R.: É a própria banda.

5 – Além do South by Southwest, a banda vai aproveitar para fazer mais shows no exterior? Onde e quantos?

R.: Sim, vamos tocar no centro e na costa leste dos EUA. Serão cerca de 10 shows.

6 – A empreitada será deficitária ou superavitária?

R.: Deficitária.

7 – Qual a expectativa da banda com a participação no SXSW?

R.: Fazer um bom show, eu acho.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

SXSW 2008 (6) - O Quarto das Cinzas responde

O Quarto das Cinzas - Raphael Haluli


1 – Quantos shows a banda já fez fora do Brasil? Onde foram?

R.: O Quarto das Cinzas ainda não se apresentou fora do Brasil, essa apresentação no festival SXSW será nosso primeiro show fora do país, dando inicio ao trabalho de divulgação no exterior. Uma idéia que já vem sendo desenvolvida desde o ano passado e talvez até de forma menos intensa desde o começo da banda, só que foi a partir do ano passado que o grupo decidiu expandir seu trabalho pra além de Fortaleza de maneira efetiva com a mudança pra São Paulo e agora em 2008, expandindo pra o exterior com o SXSW.

2 – Por que ir para o South by Southwest é importante? Quando o planejamento para ir para o South by Southwest teve início?

R.: Em termos gerais a importância de se participar do SXSW é indiscutível, um dos mais importantes festivais dos Estados Unidos concentrando uma grande quantidade de pessoas da indústria da música e de outras áreas ligadas direta ou indiretamente a ela. Só isso já seria motivo bastante pra se estar presente, porém ao longo do ano de 2007 o grupo vem fazendo uma série de contatos com pessoas nos EUA interessadas em fazer parcerias e que estarão presentes no festival. O planejamento começou exatamente no ano passado na Feira da Música de Fortaleza com o encontro do grupo com essas pessoas e vem crescendo desde então com a concretização da participação no SXSW.

3 – Quais os principais obstáculos enfrentados para concretizar a idéia de ir para o South by Southwest?

R.: Dinheiro é sempre a solução pra se concretizar qualquer idéia desse tipo. Na falta dele, isso se torna um obstáculo grande a ser vencido. É assim que o mundo está. Além disso, existe a questão dos vistos pra entrada nos EUA, que requerem além de dinheiro, boa vontade daqueles que são responsáveis para se conseguir no tempo necessário.

4 – Quem está pagando os custos para a banda ir para o South by Southwest? Houve algum apoio estatal?

R.: Até agora não houve nenhum apoio estatal e todo o apoio que conseguimos até então veio de iniciativa privada e de nossos próprios bolsos.

5 – Além do South by Southwest, a banda vai aproveitar para fazer mais shows no exterior? Onde e quantos?

R.: A nossa intenção é aproveitar ao máximo a nossa viagem da melhor forma possível, seja em outros shows, seja em fazer parcerias interessantes. É necessário entender que a divulgação de um trabalho no exterior exige uma preparação de terreno e planejamento muito cuidadoso, não adianta fazer shows de forma não coordenada porque isso se perde dentro da imensidão de coisas que existem lá fora. Mais importante que isso é se ter uma boa estrutura de divulgação e concentrar a energia nos shows mais significativos. Temos algumas outras propostas de shows nos EUA e Canadá, que serão divulgadas assim que forem confirmadas.

6 – A empreitada será deficitária ou superavitária?

R.: Dizer o que a empreitada será não é possível agora antes de vivê-la de fato. Não podemos avaliar isso apenas por conta do investimento que estamos fazendo no presente. Como todo investimento, espera-se receber algum retorno disso, pelo menos que se pague todos os custos e se ganhe a experiência e contatos feitos pelo caminho. Estamos plantando agora pra colher depois, não se pode dizer que se perderam as sementes porque foram enterradas, elas precisam de tempo para sabermos se irão ou não gerar os frutos e assim como é na natureza, se tivermos a atenção de cuidarmos da melhor forma possível dessas sementes, certamente elas nos darão uma boa colheita.

7 – Qual a expectativa da banda com a participação no SXSW?

R.: As expectativas são melhores possíveis sempre, como dissemos, temos contatos e parcerias a serem fechadas lá, além de ser uma ótima oportunidade de mostrar o trabalho pro público internacional e trocar experiências com artistas de outros países.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

SXSW 2008 (5) - Nancy responde


Nancy – João Paulo Gomes

1 – Quantos shows a banda já fez fora do Brasil? Onde foram?

R.: Fizemos apenas um show no Setor de Embaixadas, em Brasília. Vale?

2 – Por que ir para o South by Southwest é importante? Quando o planejamento para ir para o South by Southwest teve início?

R.: A importância é relativa. Acho que depende muito do perfil do showcase e das "day parties" para qual a banda é convidada. Em termos práticos, ir até o Texas e tocar num "palco brasileiro" provavelmente seria uma grande roubada, de repercussão limitadíssima. A vantagem é que é um palco fácil, primeira parada para quem quiser fazer outros shows por lá. Começamos a pensar nisso em outubro/novembro.

Complemento: O que você pretendeu dizer com “palco fácil”?

R.: Não precisa de contato prévio pra conseguir um show, fácil de marcar…

3 – Quais os principais obstáculos enfrentados para concretizar a idéia de ir para o South by Southwest?

R.: Dinheiro e burocracia.

4 – Quem está pagando os custos para a banda ir para o South by Southwest? Houve algum apoio estatal?

R.: Parte sai do nosso bolso. O Gil também ficou de nos dar dinheiro.

Complemento: A quais programas do Ministério da Cultura você se refere? Quais os nomes formais deles, quais os auxílios esperados e quando a resposta final sobre a concessão ou não de tais auxílios virá?

R.: Ganhamos mais ou menos sete mil reais pelo edital do Programa de Intercâmbio da Sefic, do MinC. Isso foi em dezembro.

5 – Além do South by Southwest, a banda vai aproveitar para fazer mais shows no exterior? Onde e quantos?

R.: Ainda estamos negociando algumas datas. Mas poucas.

6 – A empreitada será deficitária ou superavitária?

R.: Estou tentando considerar nossos gastos como "seed money". Mas, se considerarmos a empreitada isoladamente, vai ser preju, bróder.

7 – Qual a expectativa da banda com a participação no SXSW?

R.: Ganhar milhas da American Airlines.

Brasil, Música e Artes

Instigado pelas respostas recebidas de alguns escritórios de exportação que apoiarão artistas de seus respectivos países no SXSW 2008, resolvi pesquisar um pouco sobre a Brasil, Música e Artes (BMA).

A BMA é uma associação sem fins lucrativos que, desde 2002, por meio de um convênio com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX), vem centralizando os esforços brasileiros relacionados à exportação de música.

Atualmente, está em vigor o segundo convênio entre BMA e APEX, referente ao biênio 2007/2008, que pode ser renovado por mais 12 meses (segundo dispõe o Regulamento de Convênios, que pode ser obtido no site da APEX, em seu artigo 8º, parágrafo único). Trata-se do Projeto Setorial Integrado de Exportação da Música do Brasil.

Em função do fato de que o site da BMA não continha as informações que eu buscava, enviei à gerente da BMA, Célia Gillio, um e-mail com algumas perguntas (que seguem abaixo).

Assim que as respostas forem obtidas, serão publicadas aqui.

1 - Quem pode fazer parte da BMA? Apenas pessoas jurídicas?

2 - Quais os benefícios de se fazer parte da BMA?

3 - Quais os custos decorrentes da filiação junto à BMA?

4 - Por que houve a opção de não publicar o estatuto da BMA em seu site?

5 - A APEX mantém um convênio com a BMA cujo objetivo é a exportação de música brasileira. No entanto, não há muitas informações no site da BMA sobre como os interessados poderiam participar dos programas oferecidos às empresas ou artistas que busquem mecanismos que possam auxiliá-los a exportarem. Não contribuiria para o próprio amadurecimento das exportações de música brasileira que os programas oferecidos pela BMA, e a forma de se participar deles, fossem explicados no site da instituição com mais detalhes? Em outras palavras, diante do que foi dito acima, não valeria a colocação "quanto mais informações, melhor"?

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Australian Music Office

Continuando a pesquisa sobre as maiores delegações de artistas que irão ao SXSW 2008, conversei com Tony George, encarregado do escritório do Australian Music Office (AMO) localizado em Los Angeles (há também escritórios em Londres, Frankfurt, Adelaide, Brisbane, Melbourne, Perth e Sydney).

Ele me confirmou que serão 17 artistas australianos com showcases oficiais e por volta de 5 artistas que se apresentarão extra-oficialmente. Tony também informou que, no ano passado, os australianos formaram uma delegação quase que duas vezes maior que a atual.

Abaixo estão as demais respostas que Tony George me enviou por e-mail. Várias outras perguntas poderiam ser feitas em decorrência das respostas recebidas. Nesse momento, a entrevista serve apenas para ilustrar outra realidade (não tem a finalidade de compreendê-la plenamente).

1 – Das 17 bandas australianas que participarão oficialmente do SXSW 2008, quantas delas estão recebendo algum apoio do AMO para ir para Austin?

R.: De um modo ou de outro, nós concedemos apoio para todas as bandas. Em relação ao apoio financeiro diretamente concedido às bandas, nós temos um apoio denominado EMDG, que está ao dispor de qualquer um que tenha gasto 15 mil dólares australianos como contrapartida. Apenas os artistas que farão apresentações oficiais no SXSW estão automaticamente incluídos em nosso stand. Mas nós agendamos shows das bandas não-oficiais em nosso espaço no Whole Foods (cadeia de supermercados originamente de Austin – líder mundial em vendas de produtos naturais e orgânicos – que tem espaço para shows).

Complemento: Das 17 bandas que irão se apresentar oficialmente no SXSW, quantas tiveram acesso ao apoio denominado EMDG? Há auxilio para as passagens aéreas?

R.: O edital do EMDG é anual. As bandas provavelmente não irão se inscrever até o próximo ano, após terem investido dinheiro. O EMDG reembolsa 50% dos custos acima de 15 mil dólares australianos. Há também outros apoios além do EMDG. Há os auxílios estaduais e também o proveniente do Arts Council. Uma parte desses provavelmente vai financiar as passagens aéreas.


2 – Que tipo de apoio as bandas estão recebendo?

R.: Como mencionei acima, há recursos para apoio financeiro direto. Nós também damos espaço em nosso stand, ajudamos a organizar 2 festas e mais um show no qual os artistas provavelmente irão tocar. Nós também temos sessões de treinamento personalizado para aumentar as chances dos artistas junto à imprensa.

3 – Quando vocês começaram a apoiar bandas australianas no SXSW?

R.: Creio que esse será nosso 7º ano.

4 – Como vocês controlam e avaliam os benefícios e resultados positivos decorrentes do apoio às bandas australianas no SXSW e de modo geral (em relação a todos os outros projetos e políticas)?

R.: Nós nos comunicamos diretamente com as bandas para ficarmos sabendo dos resultados (contratos, etc.) que elas tenham alcançado em função do evento.

5 – O AMO recebe fundos do Estado, não é? Qual o papel dos parceiros mencionados no site da instituição? Eles também provêm recursos para o escritório?

R.: Sim, na verdade, somos parte do Estado. Nós integramos o Australian Trade Commission, que é um órgão estatal. Os parceiros mencionados no site são apenas organizações. Algumas são mais presentes do que outras. Nós não recebemos recursos de nenhuma delas.

6 - O AMO contrata assessoria de imprensa nos EUA para ajudar as bandas australianas oficialmente convidadas para tocar no SXSW?

R.: Nós contratamos uma assessoria no ano passado, foi ok. É muito complicado divulgar 35 bandas (o número de bandas que tivemos no ano passado). Houve muita exposição na imprensa, mas não há como medir a efetividade de tal exposição. Para esse ano, estamos usando apenas pessoas de nosso escritório.

SXSW 2008 (4) - Telerama e Tita Lima respondem

Telerama - Igor Miná

1 – Quantos shows a banda já fez fora do Brasil? Onde foram?

R.: Haha, nenhum! Até o convite pro festival, nenhum de nós tinha sequer passaporte!

2 – Por que ir para o South by Southwest é importante? Quando o planejamento para ir para o South by Southwest teve início?

R.: Em novembro, quando o convite chegou, começou a correria do processo que antecede a viagem. Somos meio que o azarão do festival, correndo por fora e fazendo solitariamente e na marra nossa própria produção e assessoria de imprensa, sem selo ou produtora que nos valham. Justamente por isso, a gente se agarrou com tanta força a esse convite e desde o início decidiu que não poderia perder essa chance de jeito nenhum. Num festival com 1.500 atrações e milhares de pessoas de todo o mundo, entre músicos, produtores, empresários e público querendo ver coisas novas, uma banda enche a caderneta de contatos e negocia sua música com gente disposta a comprá-la e publicá-la em outros países.

3 – Quais os principais obstáculos enfrentados para concretizar a idéia de ir para o South by Southwest?

R.: Obviamente, o primeiro obstáculo é o dinheiro. Os números na calculadora desanimaram a gente muitas vezes. Depois tem toda a burocracia para a solicitação dos passaportes e dos vistos para entrada nos Estados Unidos. E a gente ainda tem que lidar com o medo de avião do nosso baterista. Viajar deveria ser mais fácil!

4 – Quem está pagando os custos para a banda ir para o South by Southwest? Houve algum apoio estatal?

R.: Até agora, nossos próprios bolsos. Desde que chegou o convite temos buscado apoio, enviando projetos e nos inscrevendo em editais. Ainda estamos à espera de algumas respostas de órgãos da prefeitura e do governo, mas de outros lugares as respostas que recebemos foram negativas. Parece brincadeira, mas um grande desafio no Ceará é mostrar que um festival enorme e tradicional como o SXSW tem alguma relevância. Além de as pessoas sequer saberem da existência do festival, persiste a inclinação natural e já anacrônica de priorizar a "música regional", ainda que em muitos casos ela seja feita de forma boba e caricata.
À parte disso, tem gente nos apoiando como pode e ajudado muito. É o caso da ACR – Associação Cultural Cearense do Rock, que topou assinar projetos que a gente não poderia inscrever sozinhos, e da TV O Povo, que quer documentar e exibir a nossa tour na programação.


Complemento: Vocês buscaram apoio onde? Quais editais? Quais empresas privadas? Se der certo com o governo municipal e com o governo estadual, que tipo de apoio vocês irão receber?

R.: Temos na Secult - Secretaria de Cultura um projeto candidato aos recursos do FEC - Fundo Estadual de Cultura. O projeto vai ser julgado essa semana, na primeira reunião do Conselho Estadual de Cultura em 2008. Também estamos concorrendo ao Edital das Artes, da FUNCET - Fundação de Cultura, Esporte, e Turismo de Fortaleza, ligada à Prefeitura, e o resultado sai no fim de fevereiro. Estamos também à espera de uma resposta do SEBRAE, que já tinha conhecimento da nossa situação e se mostrou bastante receptivo. Para facilitar a aprovação dos projetos, não incluímos nos custos hospedagem nem alimentação. Pedimos apenas as passagens e despesas com passaporte e visto. Procuramos também o programa de apoio cultural da TAM e outras empresas privadas locais, mas nenhuma delas nos deu resposta.
Buscamos ainda patrocínio direto no BNB - Banco do Nordeste do Brasil, mas eles não foram tão gentis. O encarregado disse não ver nada de extraordinário no SXSW e procurou argumentar comparando o convite para o festival com outros casos em que artistas e grupos de teatro locais vão até lá pedir dinheiro para fazer apresentações pelo interior.


5 – Além do South by Southwest, a banda vai aproveitar para fazer mais shows no exterior? Onde e quantos?

R.: Vamos tocar apenas no SXSW. Desde que o convite chegou, temos lido e ouvido de muita gente que não vale a pena desembolsar tanta grana pra tocar meia hora nos EUA e voltar. É um modo de encarar as coisas, mas não vemos o show como o principal dessa viagem. É um investimento alto que vale pela repercussão que provoca. Desde novembro, temos feito muito barulho em torno da nossa participação no festival. Isso gerou algumas matérias sobre o assunto em jornais locais e fez com que nosso nome fosse citado também em matérias de outros lugares sobre os artistas brasileiros no SXSW deste ano, o que significa mais gente vendo e ouvindo a banda. O festival está se aproximando, e essa visibilidade tende a aumentar. Esses dias saímos na SXSWorld, a revista do festival, numa matéria especial sobre os artistas internacionais no SXSW. Mas além de clipping novo, os contatos e as infinitas possibilidades de fazer negócios com a nossa música e preparar o caminho pra outra viagem futura fazem a coisa valer a pena.

6 – A empreitada será deficitária ou superavitária?

R.: É, como eu disse antes, um investimento financeiramente alto, mas que pode ser muito lucrativo em outros termos. Desde que saiba tirar proveito da situação, a banda cresce e engorda o currículo, ainda que a conta bancária definhe. No mínimo, vale o turismo pelos states! (hehehe).

7 – Qual a expectativa da banda com a participação no SXSW?

R.: A gente tá na garagem ensaiando pra fazer um grande show no Texas. Vamos tocar músicas novas e levar um material novinho pra lançar lá. É o nosso primeiro show no exterior, né? Eles têm que gostar da gente pra gente poder voltar! Gostem da gente, gostem!


Tita Lima


1 – Quantos shows você já fez fora do Brasil? Onde foram?

R.: Vou te mandar um arquivo com essa resposta em anexo (foram muitos shows, então, o melhor é conferir a relação aqui no site da Tita).

2 – Por que ir para o South by Southwest é importante? Quando o planejamento para ir para o South by Southwest teve início? Você participou do SXSW 2007. Como foi essa experiência?

R.: É muito importante, porque por uma semana a cidade pára e fica totalmente voltada à indústria da música. Lá conheci bandas como Nomo (banda de Afrobeat), fiz um programa de rádio ao vivo da KUT e BBC (uma das minhas melhores gravações ao vivo), encontrei David Byrne andando de bicicleta na rua, vi o show do Perry Farrel, Public Enemy e uma cassetada de bandas novas que nunca tinha ouvido falar antes. Toquei no Nublu... Enfim, é show que não acaba mais, gente de selo do mundo todo... fiquei até tonta de tanta gente que conheci... não dá para lembrar de todo mundo e de quantos cartões que se recebe.

3 – Quais os principais obstáculos enfrentados para concretizar a idéia de ir para o South by Southwest?

R.: Money! Dinheiro! Patrocínio!

4 – Quem está pagando os custos para a banda ir para o South by Southwest? Houve algum apoio estatal?

R.: Até agora ninguém, assim como no Womex tentamos através do MINC e, mesmo sendo somente para cobrir o custo aéreo, recebemos uma resposta negativa. Apesar de eu ter sido a única cantora brasileira (junto a Yamandu e Mestre Siba) a ser convidada para o Festival.

5 – Além do South by Southwest, a banda vai aproveitar para fazer mais shows no exterior? Onde e quantos?

R.: Sim, estamos ainda cofirmando datas, mas NUBLU em NY e Temple Bar em Los Angeles já estão fechados.

6 – A empreitada será deficitária ou superavitária?

R.: Ainda não sabemos, pois não temos todas as datas confirmadas, nem uma resposta de patrocínio aéreo.

7 – Qual é sua a expectativa com a participação no SXSW?

R.: Quero encontrar Adrian Quesada, com quem estou escrevendo musicas há 3 meses, ele é do selo ESL, o mesmo de Thievery Corporation, e ainda não o conheço pessoalmente, só por meio do myspace. Também quero encontrar com o MC Ohmega Watts, com quem fiz colaborações no seu disco novo. Como estou indo com minha empresária (da última vez fui sozinha) pretendo tirar proveito dos encontros musicais, estou muito a fim de cantar com esses dois artistas mencionados, ver shows, bandas novas e deixar a parte administrativa para Celina Correa (minha empresária).

Music Export Norway

Em função do fato de que o número de artistas brasileiros no SXSW 2008 (14 no total) era menor apenas do que o número de artistas do Reino Unido (mais de 100), do Canadá (no mínimo 57), do México (22), da Noruega (17), da Austrália (17) e da Suécia (15), resolvi investigar como funcionam os escritórios de exportação de música na Noruega, Austrália e Suécia. A finalidade é obter mais detalhes sobre as políticas de outros países no que diz respeito à exportação de música e compará-las com o que temos no Brasil.

Mandei e-mails para os três órgãos e vou publicar as respostas aqui na medida em que as receber.

A primeira resposta que obtive foi do Music Export Norway (MEN). Helene Broch, gerente de projetos, respondeu minhas dúvidas e a pequena entrevista segue abaixo.

1 – Das 17 bandas norueguesas que participarão do SXSW 2008, quantas delas estão recebendo algum apoio do Music Export Norway (MEN) para ir para Austin?

R.: Para este ano, o MEN está dando apoio para a viagem de 13 bandas. Isso muda de ano para ano, mas por enquanto o MEN tem dado apoio para a viagem de bandas e artistas que ainda não têm muitos recursos. Também não concedemos apoio para a viagem de artistas que não vivem na Noruega ou não têm parceiros aqui (empresários, selos, etc.).

Complemento: Qual o critério para definir quais são os artistas que ainda não têm muitos recursos e estão aptos para receberem apoio do MEN?

R.: Nós avaliamos quanto de apoio governamental a banda já recebeu para o projeto (EUA, SXSW). São informações oficiais.

2 – Que tipo de apoio as bandas estão recebendo?

R.: Para o SXSW, varia entre US$ 1,400.00 e US$ 3,600.00, dependendo do número de pessoas na banda ou do número de pessoas que tocam com o artista.

3 – Eu observei o site do MEN e há informações sobre o SXSW 2007. Quando vocês começaram a apoiar bandas norueguesas no SXSW?

R.: Desde 2003.

4 – Como vocês controlam e avaliam os benefícios e resultados positivos decorrentes do apoio às bandas norueguesas no SXSW e de modo geral (em relação a todos os outros projetos e políticas)?

R.: Ou contratamos um empresa de marketing e/ou as bandas têm que nos enviar um relatório depois de alguns meses.

5 – O MEN recebe fundos do Estado? Ou apenas trabalha com dinheiro vindo do IFPI Norway (órgão da indústria fonográfica, similar à ABDP), FONO (Associação dos Selos Independentes da Noruega, similar à ABMI), NOPA (Norwegian Society of Composers and Lyricists), GramArt (the Recording Artists Association) e MFO (Musicians Union and the Music Information Centre Norway)?

R.: Para 2008, nós estamos recebendo fundos adicionais do Ministérios das Relações Exteriores e do Ministério da Cultura.

6 – O MEN contrata assessoria de imprensa nos EUA para ajudar as bandas norueguesas antes e depois do SXSW?

R.: Isso varia, mas na maioria dos anos nós contratamos empresas de assessoria de imprensa e marketing nos EUA para a promoção dos artistas que precisam disso.

7 – Você poderia me dizer a porcentagem dos fundos do escritório que vem do Estado (Ministério da Relações Exteriores e Ministério da Cultura) e a porcentagem de fundos que vem dos órgãos mencionados na questão 5? Eu queria ter uma idéia de como o orçamento do escritório é formado.

R.: Em 2007, o MEN teve 50% de seus recursos vindos do Estado. A indústria da música na Noruega (incluindo patrocinadores) complementam, de diferentes formas, o resto do orçamento. Isso se repetirá em 2008.

SXSW 2008 (3) - Lucy and the Popsonics responde

Lucy and the Popsonics - Fernanda e Pil


1 – Quantos shows a banda já fez fora do Brasil? Onde foram?

R.: 4 em Portugal no último mês de novembro: Marinha Grande, Évora, Porto e Lisboa.

2 – Por que ir para o South by Southwest é importante? Quando o planejamento para ir para o South by Southwest teve início?

R.: Em dezembro, quase um mês depois de receber o convite do SXSW. Esperamos algum apoio. Ele não veio e corremos atrás para não ter prejuízo.
A importância de ir pro SXSW é o troca-troca entre as bandas. Se em um festival no Brasil de pequeno ou médio porte isso é importante, imagine um de maior relevância como o SXSW. Visitar o Texas também me parece algo muito interessante.

Complemento: Que tipo de apoio era esperado e não veio? Por que ele não veio?

R.: Apoio de passagens. Quem estava vendo isso pra gente era a Monstro, que também nos ajuda na produção. A resposta do Fabrício Nobre (MQN) vale para a nossa. Eu só estive mais ou menos presente nas “portadas”. Ano passado eu fui ao FAC (da secretaria de cultura do Distrito Federal) e me deram uma “portada”, literalmente, quando fomos conversar sobre Portugal com eles. Até aí tudo bem porque não estávamos indo tocar em festival algum e segundo eles o governo não tinha fundos algum para apoio à cultura do DF. Além de ouvir isso, fomos super maltratados. Nos sentimos pedindo esmola literalmente. Quando chegou o convite do SXSW e confirmamos, eles já tinham aberto e fechado imediatamente o edital de apoio à cultura do DF. Aqui eles gastaram muito dinheiro com cachês de bandas e eventos que nunca se ouviu falar agora no Carnaval. Para a gente, eles não têm fundos.

3 – Quais os principais obstáculos enfrentados para concretizar a idéia de ir para o South by Southwest?

R.: Money, babe, money!

4 – Quem está pagando os custos para a banda ir para o South by Southwest? Houve algum apoio estatal?

R.: Nenhum apoio. O Estado nunca nos apoiou. Ao contrário, só recebemos portas na cara. A tour está pagando tudo porque nosso estilo é agressivo!

5 – Além do South by Southwest, a banda vai aproveitar para fazer mais shows no exterior? Onde e quantos?

R.: 13 shows nos EUA, 1 no festival francês IDEAL, 1 na Espanha e 2 na Alemanha.

6 – A empreitada será deficitária ou superavitária?

R.: Super se não gastarmos muito ou não termos calotes. Provavelmente zero a zero se algumas coisas derem errado. Se der tudo errado, déficit total. Vamos ficar 5 anos com dívida no banco.

7 – Qual a expectativa da banda com a participação no SXSW?

R.: Fazer um bom show.

Complemento: Vocês têm alguma expectativa em relação a conseqüências empresariais objetivas (mais propostas para tocar no futuro, repercussão na imprensa, propostas de licenciamento, etc.)?

R.: Para ser sincera não. São muitas bandas e seria muita sorte ter as pessoas certas no nosso showcase. Se rolar, ótimo! Estamos dentro. Se não acontecer nada, não tenho o que lamentar. As minhas maiores expectativas estão na França. Lá vou tocar em um dia excelente, com bandas excelentes e em um festival de responsa. O SXSW é assim mesmo. Mais de mil de atrações ao mesmo tempo. Ninguém tem realmente visibilidade. Somentes os cases mega famosos.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

SXSW 2008 (2) - MQN e Pierre Aderne respondem

MQN - Fabrício Nobre


1 – Quantos shows a banda já fez fora do Brasil? Onde foram?

R.: Já fizemos uma gravação nos Estados Unidos em 2001, uma tour em 2003 com 6 shows e uma tour na Argentina, no ano passado, com 5 shows.

2 – Por que ir para o South by Southwest é importante? Quando o planejamento para ir para o South by Southwest teve início?

R.: Tocamos lá em 2003, e é genial ter a oportunidade de voltar. Tocar no SXSW dá uma outra visibilidade para a banda. Esse é hoje talvez o evento de musica alternativa mais importante da América do Norte. Todos os selos, bookers, agências, outros festivais, escritórios de exportação de música de diversos países, estão por lá. Fora que você cruza com um monte de banda para novas parcerias e encontra velhos amigos.
Todo o planejamento do MQN é feito com pelo menos de um ano a 6 meses de antecedência.


3 – Quais os principais obstáculos enfrentados para concretizar a idéia de ir para o South by Southwest?

R.: Visto americano, que felizmente a gente já tem. Ser selecionado (claro!), já que tem gente que acha que é só se inscrever, mas na real não é. Eu mesmo inscrevi bandas que não foram selecionadas. E, obviamente, a grana para poder fazer a viagem.

4 – Quem está pagando os custos para a banda ir para o South by Southwest? Houve algum apoio estatal?

R.: A banda e alguns apoios privados. Não tivemos suporte estatal nenhum para poder ir ao festival. Tentamos o edital de passagem do MinC, lei de incentivo local, apoio do SEBRAE local, e etc, mas infelizmente não rolou. Temos apoio de uma agência de viagem que está dando uma das passagens, que é a agência de quem nós compramos passagens para todos os shows do MQN fora de Goiânia, o cara é um baita parceiro. Uma passagem é minha que vou representar a ABRAFIN lá. Eu vou apresentar um painel sobre a ABRAFIN e circuito brasileiros de festivais. Uma outra forma foram os shows que vendemos antecipadamente. Disso, pegamos uma grana de contratante e vamos pagar com shows já agendados depois. Concluindo, isso tudo é grana da banda mesmo, e a outra estamos rachando por 4, botando do bolso.

Complemento: Em relação a uma parte da sua resposta 4 em que você diz: "Uma outra forma foram os shows que vendemos antecipadamente. Disso, pegamos uma grana de contratante e vamos pagar com shows já agendados depois". Você pretendeu dizer que está usando cachês dos shows nos EUA que já te pagaram antecipadamente para ajudar nos custos da tour ("pegar grana de contratante")?

R.: Sim.

Complemento: "Pagar com shows já agendados depois" significa que parte dos custos da ida para os EUA será coberta por shows que vocês fizerem no Brasil depois?

R.: Sim. (A continuação da resposta 4 de Fabrício Nobre segue abaixo).

Com relação às hospedagens, vamos ficar na casa de um grande amigo em Austin e depois vamos fazer uma tour, ficando na casa das bandas com quem vamos tocar. As granas dos shows pagam transporte inteiro e alimentação.
Estamos aguardando um apoio estatal ainda, espero uma resposta positiva da APEX / BM&A, para essa semana. Algumas bandas pediram ajuda e a gente também.
Nada mais justo, está na hora do foco da exportação de musica brasileira mudar um pouco. Genial é a participação em WOMEX, MIDEM, POPKKOM, etc etc etc, mas tá na hora de entender que a musica brasileira de exportação é muito além de samba e bossa nova, ou world music. Nada contra, acho espetacular ver SIBA, CABRUEIRA, ou mesmo GIL nos palcos mundo a fora. Mas, o governo parece ignorar que somos o país do SEPULTURA, CSS, BONDE DO ROLE, KRISIUN, RATOS DE PORÃO, THEE BUTCHER'S ORCHESTRA, DEBATE, JASON, B NEGÃO, AUTORAMAS, DEAD ROCKS, do próprio MQN ou LUCY AND THE POPSONICS. Todas bandas que têm discos, lançados fora do país, fazem tour longas bancadas muitas vezes pela própria banda ou em parceria com contratantes, etc etc etc. E que existem ótimos mercados de música indie, punk, metal, eletrônica, stoner, ou etc. Todas essas bandas são tão brasileiras quanto qualquer outra, e que com apoio dos escritórios de exportação detonariam o mundo a fora, levando a verdadeira nova musica urbana brasileira. Uma cultura brasileira fora de estereotipo e pronta para mercado mundial. Viajo muito aos festivais internacionais como produtor (Monstro / Abrafin) e vejo o interesse absurdo que se tem por essa música brasileira também. Pelo rock independente brasileiro, pelo metal, hardcore, indie, eletro etc.
Os escritórios de exportação de música francesa, dinamarquesa, sueca, holandesa, belga, canadense, japonesa fazem isso. Tá mais que na hora dos MinC, Apex e etc, investirem realmente nisso. Sei que existe o investimento, mas é pouco, e não existe um estudo mais profundo sobre isso. Sei também que existe dinheiro.



5 – Além do South by Southwest, a banda vai aproveitar para fazer mais shows no exterior? Onde e quantos?

R.: Sim, cerca de 7 ou 8 em 12 dias, na região do Texas, e no noroeste , região de Seattle, que é onde nosso selo parceiro Estrus Records funciona.

6 – A empreitada será deficitária ou superavitária?

R.: O empate é um bom resultado!

Complemento: Sobre sua resposta 6, eu entendi a colocação e tudo mais. Mas talvez eu queira aglutinar algumas respostas dos 14 artistas brasileiros por meio de porcentagens. Em função disso, queria pedir para você uma resposta mais precisa sobre a expectativa da tour. Em função da sua resposta, posso entender que as contas que vocês estão fazendo indicam que haverá um equilíbrio entre entrada e saída ou seria mais preciso dizer que as contas devem terminar deficitárias?

R.: Devemos perder um pouco de grana, sim, mas encaro como investimento. Ou na pior das hipóteses uma baita viagem com meus melhores amigos, fazendo a coisa que mais gosto na vida.


7 – Qual a expectativa da banda com a participação no SXSW?

R.: Esperamos tocar num showcase melhor desta vez, e espero que o grande número de bandas brasileiras participantes chame mais atenção ainda para os shows das bandas brasileiras.

Complemento: A banda tem alguma expectativa empresarial objetiva (por exemplo: receber convites para mais shows, imprensa, propostas de licenciamento, etc.)?

R.: Sim, estamos armando um tour na Europa para esse ano ainda, e contatos serão feitos no SXSW, estamos negociando o licenciamento de todos os discos da banda para distribuição digital nos USA, e talvez lançamento de uma coletânea de 10 anos da banda nos Estados Unidos e na Europa, e a imprensa americana, e principalmente a brasileira dão muito destaque para esse tipo de ação (a coletânea já saiu na Argentina).


Pierre Aderne


1 – Quantos shows você já fez fora do Brasil? Onde foram?

R.: Fiz ano passado no SXSW. Abri o show do Ben Harper em Lisboa 2006, Sagres Surf Fest também em Portugal ao lado de Patrice e Slightly Stoopid e uma turnê no Japão em Setembro passado (Tokyo, Nagoya e Kamakura).

2 – Por que ir para o South by Southwest é importante? Quando o planejamentopara ir para o South by Southwest teve início? Você participou do SXSW 2007. Como foi essa experiência?

R.: O SXSW de 2007 foi incrível, parecia que eu tava voltando pro verão "flower Power" de 67, um clima Hippie, cada um na sua e todos num "together", soube do festival (dica do produtor que me levou a Portugal), entrei no site e fui convidado.
O show foi incrível e até hoje recebo novos amigos no myspace que chegaram a minha música através do festival. O planejamento para o SXSW 2008 começou em agosto do ano passado. No meu show fui procurado pelo presidente da Putumayo Records (Don Stopper), falou que queria colocar uma música minha numa coletânea (o que ainda não aconteceu).

3 – Quais os principais obstáculos enfrentados para concretizar a idéia deir para o South by Southwest?

R.: Você escolhe um cachê de U$ 400 ou passaporte pra ver o resto dos shows, a grana é curta, ano passado fui beneficiado com projeto de passagens aéreas do MINC, se não tiver apoio tem que ir por conta própria.

Complemento: Qual o nome do projeto/edital do qual participou no MINC e que lhe beneficiou as passagens aéreas internacionais para Austin?

R.: Sim, recebemos as passagens para Austin (3 pessoas), se chama Edital de passagens aéreas.

Complemento: Você também obteve esse benefício para o SXSW 2008?

R.: Não, me parece que o edital ainda não foi aberto.

4 – Quem está pagando os custos para a banda ir para o South by Southwest? Houve algum apoio estatal?

R.: Respondida na anterior.

5 – Além do South by Southwest, a banda vai aproveitar para fazer mais showsno exterior? Onde e quantos?

R.: Tive convite da radio KUT de Austin pra um show ao vivo na radio, além disso, um show ainda não confirmado em NY.

6 – A empreitada será deficitária ou superavitária?

R.: Levando em conta que arte é patrimônio e fazer o SXSW é aumentar esse patrimônio, sem dúvida, superavitária, o dinheiro vai estar me esperando na próxima estação.

Complemento: Eu entendo que os conceitos de déficit e superávit são relativos em função dos resultados que se espera colher (longo prazo ou curto prazo). Talvez eu queira aglutinar algumas respostas dos 14 artistas brasileiros por meio de porcentagens. Em função disso, eu poderia entender sua resposta 6 como sendo assim "Haverá um déficit com a ida ao SXSW 2008, mas eu o encaro como um investimento em minha carreira"?

R.: Mais ou menos isso e caso sejam confirmados os shows de NYC ficamos com um ótimo 0x0.

7 – Qual é a expectativa com a participação no SXSW?

R.: Tocar, cantar e falar para um público que ainda decide com os ouvidos o que quer escutar, trocar figurinha com outros artistas do mundo, parcerias e convites pra levar meu circo mundo a fora.

South by Southwest 2008 (1)

O South by Southwest (SXSW) é um evento que ocorre em Austin, no Texas, desde 1987. Começou dedicando-se apenas à música, por meio de conferências e shows. Em 1994, passou a abrir espaço para cinema e novas mídias/tecnologia. É considerado um dos principais eventos da indústria da música independente nos EUA.

Um bom show no SXSW pode abrir muitas portas, desde que as pessoas certas estejam na platéia.

Entre 12 e 16 de março de 2008, Austin será o centro das atenções para muitas pessoas ligadas à música (selos, promotores, agentes, artistas, empresários, imprensa, público próximo, público remoto, etc.). O evento contará com shows de: Akron/Family, Atlas Sound, Born Ruffians, British Sea Power, The Concretes, The Cribs, Digitalism, Diplo, El-P, Jason Forrest, Holy Fuck, Jandek, Juiceboxxx, The Kills, Mark Kozelek, Jens Lekman, The Lemonheads, Madlib, Mahjongg, Moby, Thurston Moore, MSTRKRFT, Nada Surf, N.E.R.D., No Age, Plastic Little, Pop Levi, Portastatic, The President of United States of America, Radio 4, The Raveonettes, REM, Saturday Looks Good to Me, Shir Khan, Shout Out Louds, Simian Mobile Disco, Supersuckers, Tokyo Police Club, Vampire Weekend, The Vines, Yeasayer, Yo La Tengo, etc. (última visita ao site do SXSW: 10.02.08).

Não usei nenhum critério especial para essa seleção, apenas separei nomes que eu pude reconhecer na extensa lista de artistas que foram escolhidos para se apresentarem em 2008. O importante mesmo, talvez, são os nomes que ainda não são reconhecíveis.

Para essa próxima edição, 14 artistas brasileiros (v. nota 1) foram selecionados para realizarem shows dentro do SXSW. São eles:

Alexia Bomtempo (Rio de Janeiro)
Curumin (São Paulo)
Debate (São Paulo)
Fruet & Os Cozinheiros (Porto Alegre)
Lucy and the Popsonics (Brasília)
Marcelo D2 (Rio de Janeiro)
MQN (Goiania)
Nancy (Brasília)
O Quarto das Cinzas (Fortaleza)
Pata de Elefante (Porto Alegre)
Pierre Aderne (Rio de Janeiro)
Telerama (Fortaleza)
Tita Lima (São Paulo)
Vamoz (Recife)

(Estou tentando obter junto aos organizadores do SXSW a seguinte informação: o número de artistas brasileiros que se inscreveram para no SXSW 2008. Queria ter o número para compará-lo com os 14 que foram efetivamente selecionados. Quando eu obtiver esse dado, faço uma emenda nesse parágrafo).

Após uma rápida pesquisa na lista de artistas que irão se apresentar no SXSW 2008, percebi que há representantes de diversos países: Argentina (9), Holanda (10), Reino Unido (mais de 100), Dinamarca (7), México (22), Noruega (17), Jamaica (1), Trinidad e Tobago (1), Japão (13), Suécia (15), Eslovênia (1), Portugal (5), Ilhas Faroe (1), Austrália (17), França (11), Alemanha (13), Espanha (12), Itália (5), Nova Zelândia (9), Islândia (3), República Tcheca (1), Colômbia (2), África do Sul (5), Irã (3), China (1), Ilhas Virgens (1), Rússia (1), Israel (2), Taiwan (1), Letônia (1), Líbano (1) e Indonésia (2).

Deixei o Canadá de lado porque, na lista do site do SXSW, os artistas canadenses não estão com o nome “Canada” em destaque, há apenas o nome da cidade e o estado canadense de onde as bandas vêm, o que inviabilizou a colocação do nome do país no campo de busca. No entanto, buscas por "Montreal" e "Toronto" revelaram 24 e 33 bandas, respectivamente. Há, então, no mínimo, 57 bandas canadenses.

O número de artistas brasileiros é menor apenas do que o número de representantes dos Estados Unidos (país que sedia o evento), Reino Unido (mais de 100), Canadá (no mínimo 57), México (22), Noruega (17), Austrália (17) e Suécia (15).

Aproveitando esse cenário, entrei em contato com os artistas dessa lista de 14 nomes do Brasil para fazer algumas perguntas. Todos já receberam ou receberão as mesmas perguntas abaixo:

1 – Quantos shows você já fez fora do Brasil? Onde foram?

2 – Por que ir para o South by Southwest é importante? Quando o planejamento para ir para o South by Southwest teve início?

3 – Quais os principais obstáculos enfrentados para concretizar a idéia de ir para o South by Southwest?

4 – Quem está pagando os custos para a banda ir para o South by Southwest? Houve algum apoio estatal?

5 – Além do South by Southwest, a banda vai aproveitar para fazer mais shows no exterior? Onde e quantos?

6 – A empreitada será deficitária ou superavitária?

7 – Qual é a sua expectativa com a participação no SXSW?

Na medida em que eu receber as respostas, elas serão publicadas neste espaço.

Nota 1: Segundo o site do SXSW 2007, foram 4 os artistas brasileiros presentes na edição do ano passado: Debate, Tita Lima, Pierre Aderne e Bonde do Rolê.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O relatório da ABPD sobre o ano de 2006

Entrei no site da ABPD (Associação Brasileira dos Produtores de Discos) para verificar se já havia sido publicado um novo relatório sobre o mercado brasileiro de música.

Fiquei feliz em saber que, sim, o relatório estava ao dispor do público.

“Publicação ABPD
2006/2007
5601KB”.

Ao clicar em “baixar”, percebo que o arquivo digital foi nomeado pela ABPD como “Publi2007_JAN2008”. Fiquei mais contente ainda: sim, o relatório abrangia 2007 (a despeito da capa do documento indicar apenas o ano de 2006) e foi publicado recentemente, em janeiro de 2008.

Após o download estar completo, mais um ponto positivo: a arte da capa não é meramente concretista, minimalista, abstrata e clean como as artes das edições anteriores. Não. Há o desenho de um tocador de MP3 no centro da arte e, no canto inferior esquerdo (em posição análoga ao próprio logotipo da ABPD), há o desenho de um mouse.

Há também múltiplas circunferências na arte do relatório. Imaginei a simbologia disso: 1) o mercado de música não é mais composto por círculos concêntricos de diferentes diâmetros (de modo que o de maior diâmetro abarcaria os de diâmetros menores); 2) as várias circunferências de diferentes tamanhos e cores, como se fossem bolhas, indicam que o mercado está em ponto de ebulição, cheio de possibilidades e pronto para adquirir outras formas.

Confesso que o meu entusiasmo estava difícil de ser contido.

O primeiro revés veio logo no parágrafo inicial, com a informação de que o relatório era apenas sobre o ano de 2006. Tudo bem, isso não acabaria com meu entusiasmo.

O objetivo do relatório é “o desenvolvimento do setor e o melhor conhecimento do mercado”. Legal.

Mais um símbolo: os outros 6 relatórios prévios foram também publicados em formato físico, mas o relatório mais recente seria o primeiro a ser apresentado ao público apenas em formato digital.

Primeiro dado: o mercado brasileiro de música (CD + DVD + VHS) movimentou em 2006 cerca de R$ 454,2 milhões. Uma queda de 26,2% em relação ao montante movimentado em 2005.

Segundo dado: a queda em relação às unidades vendidas foi da ordem de 28,7% em relação a 2005. 37,7 milhões de unidades foram vendidas em 2006.

Os porquês segundo a ABPD: “isso pode ser atribuído à pirataria física contínua nos últimos anos e a troca ilegal de arquivos musicais que acontece de forma desenfreada pela Internet aqui no Brasil e no mundo”.

Em relação ao áudio musical (CD), comparando-se 2006 com 2005, houve retração de 30% em valores faturados (R$ 322 milhões) e de 32% em unidades líquidas vendidas (31,4 milhões de unidades).

Em relação ao segmento dos vídeos musicais (cuja fatia do mercado brasileiro de música cresceu de 2005 para 2006 – de 25,2% para 29,1%), houve retração de 14,6% em valores (movimentação em 2006: R$ 132,1 milhões) e 4,5% de retração em unidades (6,3 milhões de unidades vendidas em 2006).

O próximo item do relatório chama-se “Mercado Mundial de Música Digital”. A impressão que eu tive é que esse item é um resumo dos dados e percepções da IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica – órgão ao qual a ABPD se filia) sobre o ano de 2006. No próprio site da ABPD estão disponíveis os relatórios da IFPI de 2007 e 2008. Resolvi, então, não dar muita atenção a esse item. Mais tarde eu leio os relatórios da IFPI.

A despeito disso, a ABPD informa: “a pirataria on-line e a desvalorização do conteúdo musical são ameaças reais para o emergente negócio de música digital”. Não entendi o que seria essa desvalorização mencionada acima. A quantidade de música e de opções artísticas diferentes ao dispor do público nunca foi tão grande. Parece que a ABPD ainda se vincula à antiga concepção de que quem informa ao público o conteúdo musical de valor são as grandes gravadoras.

Quando acho que vou entrar em contato com dados sobre o mercado de música digital no Brasil, encontro o parágrafo final do item sobre o mercado digital no mundo, em que a ABPD afirma:

1) a tendência é a indústria da música priorizar o mercado digital;
2) tal movimento é mais visível nos países desenvolvidos (com maior acesso à Internet, banda larga, posse de equipamentos pela população, etc.);
3) mas, mesmo em mercados emergentes como o Brasil, as receitas com música digital (telefone móvel e Internet) “já começaram a partir dos últimos anos a crescer significativamente e a representar parcela importante no planejamento para os próximos anos”;
4) prepondera no Brasil certa hegemonia da telefonia móvel no mercado digital. No entanto, há 30 lojas virtuais devidamente licenciadas.

Um ponto positivo do relatório é o momento em que há o reconhecimento dos benefícios do mercado digital para o consumidor (“prateleiras ilimitadas que oferecem músicas nas lojas digitais”).

Encerrando o relatório, a ABPD divulga os dados sobre a apreensão de mais de 47 milhões de unidades de CDs e DVDs piratas em 2006 (crescimento de 57% em relação ao ano de 2005).

A ABPD apenas traz em seu relatório os dados sobre a pirataria física, mas deixa o recado: “São considerados ilegais, segundo a legislação nacional, não somente websites, mas todos os serviços não licenciados, que possibilitam, direta ou indiretamente, a busca, armazenamento, distribuição, comercialização e execução de músicas por meio da Internet”. Será que o Google Brasil poderia ser, então, responsabilizado judicialmente por facilitar a busca de um blog que contém o link para o disco que eu quero escutar?

Minha impressão sobre o relatório é: a ABPD afirma que o mercado digital deve ser priorizado, mas não apresenta dados sobre esse mercado no Brasil. A ABPD compila dados em relação ao passado da indústria da música: o mercado físico. Reafirmo: o relatório não divulga dados sobre o mercado digital brasileiro em 2006 (v. nota 1).

O objetivo da ABPD é (página 18 do relatório): criar condições que auxiliem a indústria a preservar o mercado de música; criar condições que auxiliem a indústria a desenvolver novos mercados e novas tecnologias de comercialização de conteúdo musical; combater a pirataria física e digital; lutar por uma legislação mais eficaz de proteção aos direitos autorais e conexos; promover a correta valorização da música como bem cultural e econômico.

Para quem não é integrante da ABPD e apenas entra em contato com a instituição por meio de seus relatórios e site, fica a impressão que a ABPD somente está interessada em preservar o mercado de música através do combate à pirataria (como o mercado digital é irrisório no Brasil, a ABPD tem como função principal preservar o mercado físico). No quesito “desenvolver novos mercados e novas tecnologias de comercialização de conteúdo musical”, não está muito claro o que a ABPD vem realizando e quais são seus planos.

A ABPD deveria se abrir mais. Deveria se preocupar menos com os interesses de curto prazo de seus associados e mais com o desenvolvimento do mercado digital. Deveria se mostrar para o público interessado como uma entidade que dialoga, busca soluções, expõe seus planos e suas dúvidas. Deveria entender a postura do público que compartilha arquivos digitais e não simplesmente marginalizá-lo.

Nota 1: Escrita em 08.02.08 - A última notícia disponível no site da ABPD (“IFPI publica Relatório de Música Digital – 2008”) informa que, na primeira quinzena de março, serão divulgadas as estatísticas oficiais sobre o mercado de música digital no Brasil, juntamente com as estatísticas de 2007 referentes ao mercado físico. A instituição já adiantou as seguintes informações: as receitas com música digital no Brasil aumentaram de 185% em relação à 2006; as vendas através de telefonia celular cresceram 157% em 2007 e suas receitas representaram 76% do total do mercado digital; as receitas advindas da Internet representaram 24% do mercado digital em 2007 (em 2006, apenas 4%).

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O papel do artista

O papel que o artista desempenhava na era pré-internet e os papéis que o artista tem que desempenhar hoje são bastante diferentes.

Antes, havia um número limitado de canais entre o artista e o público. Uma opção poderia ser tentar o primeiro contato com seu eventual público em uma casa de shows que o artista julgava ser freqüentada por quem ele gostaria que fosse seu público. Para tanto, uma primeira barreira a ser superada seria convencer alguém a permitir tal apresentação e, num segundo estágio, ser remunerado de algum modo por isso. Essa era a forma de construir um público para sua música.

Poderia haver uma tentativa de fazer com que pessoas da indústria fonográfica escutassem sua música e tentar o mesmo em alguma rádio ou veículo impresso que permitisse tal abertura.

Contatos pessoais sempre existiram, mas o que sempre existiu e não se alterou não é relevante para entender o ontem e o hoje.

Além disso, a maior parte do público estava acostumada com certa passividade em relação a entrar em contato com artistas novos. Havia uma infra-estrutura que, de tempos em tempos, mostrava ao público os novos artistas do momento.

Mas as coisas não são mais assim há alguns anos.

Os canais entre artistas e público estão abertos e cabe ao artista escolher aqueles que melhor lhe servirão para chegar em quem vai querer escutar sua música.

Opções de lugares para tocar? Aposto que existem mais lugares para tocar hoje do que ontem, mas a sensação de insatisfação em relação às oportunidades de lugares para se apresentar vem do fato de que há também um enorme número de artistas e bandas “disputando” os mesmos espaços.

Hoje em dia quase todos são artistas e estão tentando divulgar suas músicas. Trata-se de mais um fator na concorrência pela atenção do público: grande parcela do público hoje também é artista.

Não é uma questão de não ser necessário ter uma postura ativa no passado e isso ser necessário agora. A questão é que a postura ativa necessária agora não está tão bem definida. A fórmula não está pronta para ser repetida. Os canais que serviram para um artista se destacar não necessariamente vão servir para o próximo. As circunstâncias mudam rapidamente e se, por algum motivo, o “nível de satisfação pela busca de novidades” do seu público estiver elevado nas semanas em que você disponibilizou suas melhores músicas, elas simplesmente não irão reverberar como iriam em outras condições de temperatura e pressão.

A espécie de postura ativa exigida hoje é outra. O artista tem que ter habilidades e conhecimentos de áreas que não lhe eram essenciais no passado (marketing, tecnologias, networking, nova economia) e saber interpretar os acontecimentos do seu tempo com muita perspicácia.

Ele tem que decidir onde investir mais (na gravação de suas músicas ou em turnês deficitárias?), quanto e quando investir em cada um dos aspectos relacionados a sua promoção (fotos, roupas, vídeo, artigos promocionais, assessoria de imprensa, etc.). Ele tem que decidir quanto tempo se dedicará a um trabalho que lhe gera renda e subsidia os gastos com a banda e quando se dedicar integralmente à carreira artística.

Se há uma crise do negócio, em certo sentido, há uma crise de como o artista se insere no negócio. Não estou aqui desprezando todos os efeitos positivos para o artista em função da ampliação das possibilidades de comunicação com seu público, não é isso. Mas creio que não se pode negar uma certa angústia gerada pelo crescimento das oportunidades.

Em resumo: o artista que quer se destacar tem que agir como um empreendedor.

Pressupondo que tudo que foi escrito acima tem algum sentido, cabe a pergunta: até que ponto os artistas e bandas brasileiras que conhecemos são empreendedores?

Em muitos artistas eu percebo um ar de angústia por terem conseguido alcançar relativo destaque e, após certo tempo, não terem conseguido dar o próximo passo.

Onde está o empecilho para esse próximo passo? Está nos artistas e bandas que não têm as ferramentas necessárias para continuarem seu desenvolvimento? Está no público que não é grande o bastante para sustentar tal crescimento? Está no fato de que não há uma infra-estrutura (selos, promotores, assessores de imprensa, etc.) capaz de absorver tais artistas e bandas e contribuir para que o próximo passo seja alcançado?

(PS: espero confirmar os relatores de cada um dos 6 temas do primeiro ciclo de debates em breve. Enquanto isso, vou escrevendo algumas idéias sobre cada um dos temas, como fiz agora em relação ao tema I).

Temas do primeiro ciclo de debates

Estes são os temas do primeiro ciclo de debates (primeiro semestre de 2008):

I - O papel do artista;

II - O papel do Estado;

III - Circuito para shows (o papel dos festivais e das casas de shows);

IV - Mercado digital;

V - Vinculação de marcas à música; e

VI - Direito Autoral.

Sim, concordo, não há nada de novo. O diferencial será o texto sobre cada item, a ser produzido pelo relator de cada tema.

As finalidades dos debates e dos textos produzidos serão: pensar os problemas vinculados a cada tema e o que deveria ser feito para minimizá-los (tendo em vista um mercado de música mais desenvolvido).

Primeiro passo

Antes de realizar os debates, seria necessário definir os temas. Decidi enviar e-mails para algumas pessoas e perguntar a elas quais suas principais preocupações e problemas em relação ao mercado de música no qual estavam inseridas.

As perguntas foram:

1) Indique 3 (três) problemas principais que, na sua opinião, prejudicam o desenvolvimento mais pleno do mercado de música no qual você se insere/está mais próximo?

2) Se você fosse contratar um grupo de técnicos para responder, por meio de um parecer, uma pergunta cuja resposta te interessa muito, que pergunta seria essa? (Apenas para dar um exemplo de pergunta: Por que as vendas de fonogramas no formato digital são tão irrisórias no Brasil?).

Foi com base nas respostas recebidas que defini os 6 (seis) temas do primeiro ciclo de debates, que ocorrerá no primeiro semestre. Os temas serão publicados, juntamente com os nomes dos participantes do primeiro ciclo de debates, assim que os participates forem definidos e os convites forem aceitos.

O porquê

Volta e meia eu converso com amigos e colegas sobre o mercado de música no Brasil. São pessoas com diferentes perfis, formações e níveis de engajamento em relação a empreendimentos vinculados à música. E são nessas conversas informais, que ocorrem na saída de um show, no carro indo de um lugar para o outro ou em um restaurante, que, de vez em quando, surgem perguntas essenciais ou pensamentos originais sobre o mercado de música no Brasil. Normalmente o que surge acaba se perdendo ao se abrir a porta do carro ou ao se pagar a conta do restaurante.

Nos últimos meses, um fato tem me perturbado bastante: eu só tive acesso a essas perguntas e pensamentos porque estava conversando com a pessoa. Seria bom para todos que essas idéias estivessem ao dispor de qualquer um. Não que elas irão salvar um negócio ou revolucionar o mercado, não estou falando de milagres. Mas o ponto é que se não houver uma ou mais fontes onde se concentrem idéias sobre certo tema, será complicado que os interessados pelo tema possam desenvolvê-lo. Em outras palavras: em relação à compreensão do mercado de música no Brasil, eu fico com a impressão de que ainda estamos na fase da cultura oral (que pode até ter certo charme, mas tem também muitos limites). É necessário “entrar” na cabeça de algumas pessoas vinculadas ao mercado da música e que não escrevem sistematicamente sobre o tema.

Além do fato de que as idéias de algumas pessoas não estão ao dispor de todos, outro fato me constrangia. A inexistências de textos sobre o mercado da música no Brasil que contivessem uma mínima estrutura científica (v. nota 1). Por estrutura científica, pretendo dizer: introdução, hipótese, método, desenvolvimento e conclusão. Concordo, há textos sobre mercado brasileiro de música e há textos que contêm os itens que eu defini acima como caracterizadores de uma estrutura científica, mas eles poderiam existir em maior número.

Foi diante desse cenário que surgiu a idéia de realizar alguns debates sobre o mercado de música no Brasil, com uma estrutura similar aos debates ou seminários que ocorrem na graduação ou na pós-graduação. Esse blog vai ser o lugar onde os resultados desses debates serão publicados e a experiência de realizá-los será relatada.

Nota 1: Não desprezo a importância de textos que são exploratórios, provocadores e não se comprometem com conclusões. O ponto é que também são importantes textos que se comprometem com conclusões.