domingo, 24 de fevereiro de 2008

James Lima, Petrobras e o papel do Estado

No último dia 21, o Music News publicou um editorial cujo título era “As feiras de música perdem seu maior patrocinador – A Petrobras”. O texto foi assinado por James Lima, editor do Music News.

O título era bastante incisivo e parecia estar alicerçado em fatos que seriam narrados no inteiro teor do editorial. O inteiro teor do editorial afirma que a Petrobras redimensionou suas ações de patrocínio e, como conseqüência de tal medida, a Feira de Música Independente (FMI), o Porto Musical e a Feira Música do Brasil ficariam sem os recursos da Petrobras. O editorial indica que, em contrapartida, a Petrobras ainda vai patrocinar a Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes), ressalta que não tem nada contra a Abrafin e que a Petrobras estaria estimulando a Abrafin a fazer pequenas feiras e seminários. O editorial, ao final, critica essa estratégia da Petrobras por meio de uma pergunta que aponta o paradoxo da nova estratégia, tendo em vista que os eventos que deixarão de ser patrocinados pela estatal têm os mesmos fins que a Petrobras quer alcançar ao apoiar eventos da Abrafin.

No dia seguinte, 22 de fevereiro, o Music News publicou esclarecimentos enviados por Melina Hickson em nome do Porto Musical e da Abrafin (os inteiros teores das notas encontram-se no site do Music News).

Melina Hickson, ao final de sua manifestação, posiciona-se no sentido de que as pequenas palestras e debates que o Edital Petrobras de Festivais de Música pretendeu estimular não devem alterar ou enfraquecer as grandes feiras e convenções de música.

Em nova nota, James Lima reforça a opinião de que a Petrobras deixar de patrocinar os grandes eventos seria uma grande perda para o mercado independente. Considera que a Petrobras deveria continuar a apoiar o segmento de feiras, shows e encontros do mercado musical independente como um todo e, ao concluir, indica que o que está em pauta são as justificativas da estatal ao cortar “incentivos para algumas atividades e incluir ou continuar incentivando outras com as mesmas intenções”.

“Estamos ou não estamos todos junto?!” é a pergunta com a qual James Lima encerra seu texto.

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Sou assinante do Music News há algum tempo e tenho a impressão de que foram raras as notas em que o editor se posicionou sobre assuntos ligados ao mercado brasileiro de música. Sendo assim, apenas o ato de se posicionar já é importante e contribui para que o debate possa ter início.

Não concordo com alguns pontos expressados por James Lima e vou indicar quais são eles e os porquês.

Em primeiro lugar, abordar o fato de que os grandes eventos têm os mesmos fins que os pequenos como um indicativo de que haveria uma irracionalidade na nova estratégia da Petrobras não é totalmente esclarecedor. Olhar para os mesmos fins genéricos que eventos pequenos e grandes tentam realizar não esclarece as diferentes conseqüências que cada tipo de evento pode gerar. Explico.

Um grande evento pressupõe o seguinte:

- será acessível às pessoas e empresas que já têm certo nível de capitalização para assumir os custos de deslocamento até o grande evento;
- a pauta será interessante para empresas e pessoas que já têm maior nível de organização para os negócios;
- a oportunidade para a troca de experiências e conhecimentos ficará centralizada em apenas um espaço.

Vários eventos pequenos pressupõem o seguinte:

- serão acessíveis às pessoas e empresas com menor nível de capitalização e que poderão, então, assumir os menores custos de deslocamento para um evento não tão distante do lugar onde se encontram;
- as pautas serão interessantes para empresas e pessoas que têm menor nível de organização para os negócios;
- a oportunidade para troca de experiências e conhecimentos ficará descentralizada.

James, pelo que compreendi, considera que a Petrobras deveria continuar a apoiar “todo o segmento de feiras, shows e encontros do mercado musical independente como um todo”. Sim, isso seria possível se os recursos financeiros não fossem escassos. A Petrobras deve ter seus limites para investir nesse segmento e, diante disso, toma decisões sobre onde investir. Ignorar esse ponto de vista da Petrobras não contribui para o debate.

Mas e o que eu acho mais produtivo: investir em vários pequenos eventos espalhados pelo Brasil ou investir em poucos grandes eventos?

Não sei. Não sei se tenho os dados necessários para ter uma opinião.

Antes de ter uma opinião formada, creio que seria importante saber:

- qual o perfil de quem participa de um grande evento e de um evento pequeno? Qual o seu nível de organização, conhecimento, faturamento, em que posição da cadeira econômica se encontra?

- o que fazem com as informações e experiências obtidas nos eventos grandes ou pequenos? Como os eventos influenciam objetivamente sua atividade econômica?

- quais as diferenças entre as três grandes feiras de música que ocorrem no Brasil?

A finalidade desse texto é tentar problematizar o debate que James Lima iniciou.

Tenho muito interesse sobre o tema do papel do Estado em relação à música e ao mercado da música. Em breve, pretendo publicar mais textos sobre o tema.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fala, Bruno

Só uma coisa importante de ressaltar: o Porto Musical faz parte da Abrafin. Então isso meio que elimina esse medo do James Lima.

O evento não aconteceu este ano por questão relacionadas ao ministério da cultura, que decidiu não realizar a Feira Música do Brasil.

James Lima disse...

Oi Bruno,

Gostei muito da sua reflexão sobre o tema por mim abordado no Music News.
Eu queria mesmo abrir o debate. Não é uma questão sobre maior ou menor ou de abrangência, e sim a justificativa de não apoiar os eventos dizendo ser uma nova estratégia, com justificativas sem fundamento e ações controversas.
Estamos longe de obter uma política clara e democrática para estes eventos.

Grande abraço,
James Lima